Carrie Fisher e por que estamos aqui
Oi, mundo,
Eu deliberadamente fui morar num canto escondido da internet há alguns anos, mas recentemente fui diagnosticada com transtorno bipolar e transtorno de ansiedade generalizada, o que indiretamente me trouxe até aqui. Vamos à cronologia dos fatos: eu sofro com a ansiedade desde os seis anos, mas há algum tempo ela vem me incomodando mais intensamente. Na semana passada, eu basicamente tive um colapso nervoso, então resolvi parar de ensaiar e finalmente procurar ajuda médica. Duas psiquiatras, diversos relatos e algumas (muitas) lágrimas depois, recebi (com alguma relutância) o diagnóstico supracitado e o aviso: você é muito mais rápida e produtiva do que qualquer pessoa normal, então precisa estar preparada para as mudanças que virão com o tratamento. Fiz uma breve pesquisa e descobri que muita gente que eu admiro tem transtorno bipolar, o que fez eu me sentir menos sozinha e um pouco melhor comigo mesma. No entanto, isso também fez eu me perguntar se essas pessoas fizeram coisas incríveis enquanto e porque estavam num episódio de mania ou hipomania (que é o que eu mais tenho, então, seguindo esse raciocínio, acho que sou hipoincrível) ou se elas eram incríveis apesar do transtorno. Em resumo, aquela chata e eterna discussão sobre a relação entre loucura e criatividade virou a pauta principal do meu cérebro já biologicamente perturbado.
Daí, procurando compreender melhor o transtorno bipolar e o que acontecerá comigo agora que estou recebendo o devido tratamento, estava assistindo ao maravilhoso documentário do Stephen Fry The Secret Life of the Maniac Depressive. Eu já tinha assistido há alguns anos por indicação da Ana, mas resolvi ignorar a enorme identificação que senti com o que estava sendo descrito, assim como ignorei quando, aos dezesseis anos, ouvi pela primeira vez que eu provavelmente tinha transtorno bipolar (em minha defesa, a mesma psicóloga também já havia dito que eu tinha depressão e síndrome do pânico, e que era tudo culpa do meu pai). Enfim, o documentário me lembrou da Carrie Fisher e, pesquisando sobre ela, fiquei meio emocionada e impressionada com quanto – e com quanta sensibilidade, humor e articulação – ela se dedicou a combater o estigma das doenças mentais e ajudar quem sofre delas. Pouco antes de sua morte, ela inclusive começou uma coluna para dar conselhos, em referência à qual essa essa newsletter foi (muito menos graciosamente, eu reconheço) intitulada.
A motivação básica aqui é tentar ser um pouquinho mais como a Carrie Fisher: ver nesses problemas a oportunidade de colaborar no combate ao estigma das doenças mentais, ajudar como eu puder as poucas pessoas a quem tenho acesso e relembrar quão heróico é eu (e qualquer pessoa, na verdade) lidar com a vida de modo geral. É sobre lidar com a vida de modo geral que é essa newsletter, de modo geral.
Eu também sou uma excelente aluna (de letras – linguística, em vias de entrar no mestrado e com um e às vezes ambos os pés na filosofia), tenho um relacionamento aberto e incrivelmente saudável há mais de quatro anos, luto contra a insônia e a enxaqueca há não-tão-maravilhosos treze anos (e tenho ganhado mais do que perdido ultimamente), sou vegetariana e gosto de literatura, moda, seriados, viagens – enfim, de coisas bonitas e de viver da melhor forma que eu posso (e, vale dizer, é difícil às vezes reconhecer que temos bastante poder para melhorar nossas vidas, e é mais difícil ainda exercê-lo). A ideia, então, é falar aqui, mais especificamente, de todas essas coisas e sobre como eu aprendi (e estou aprendendo, com o tratamento e tudo mais) a viver bem comigo mesma. Eu quero fazer isso inclusive dialogando mais intimamente com vocês, então, se quiserem, vocês podem mandar perguntas, conselhos ou demandas diversas ou em resposta a essa e às próximas newsletters, ou, se forem tímidos, no meu curiouscat. Vou tentar incorporar as minhas respostas aqui ou mandá-las individualmente por e-mail se a primeira opção não for viável (e eu tiver vontade, tempo, forças e o que dizer).
Até a próxima, quando falarei da importância de pedir ajuda e sobre treating yourself (literalmente). Ou não, vai saber.
Com amor,
Tayná